CHICO BARBOSA É JORNALISTA QUE CORRE faz uma data – para ser preciso, desde o tempo em que o Investigador Vicente Vilardaga também corria (e que seus best-sellers À queima roupa e A clínica nem quimeras eram).
Chico soma oito maratonas no currículo e um número pornográfico de voltas pelo anel interno do parque Ibirapuera.
Ele é da escola Cesinha Candido, que reza que não se deve correr se não houver uma planilha de excel em três vias de igual forma e teor indicando o rumo a seguir.
CHICO VAI AO CHILE
CESINHA CANDIDO, O NOVO MARATONISTA
O INVESTIGADOR VOLTA AO CASCALHO
DESENHANDO A CORRIDA
PARE DE USAR PLANILHA
ESPECIAL MARA DE BUENOS AIRES – ENTREVISTAS SUADAS
Chico acaba de correr a mara de Buenos Aires, e, a pedido do editor deste pasquim, conta como foi dar sua terceirinha pelos bosques de Palermo.
Evoé.
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Mente quem diz que não está nem aí para o seu tempo na maratona. Até mesmo o corredor que vai fazer a sua primeira prova considerando “apenas” chegar até o final quer terminá-la em uma faixa de horas prevista.
Dia destes, conversando com o sub 3h30 Sérgio Xavier, disse que quem afirma se divertir correndo os lendários 42,195K sem olhar para o relógio o faz por não ter coisa melhor a fazer.
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Dito isto, descobri, a contragosto, que correr um pouco abaixo do nosso limite tem lá suas compensações.
Anteontem fiz minha terceira maratona de Buenos Aires consecutiva — a oitava de minha carreira.
A cidade portenha tem sido meu refúgio quando o trabalho me impede de participar de outras provas do calendário, mormente a maratona de Berlim, o cenário ideal para a tão sonhada redução do tempo.
Buenos Aires está longe de abrigar os recordes mundiais, mas o percurso é agradável, plano e arborizado, a temperatura tende a ser amena (embora nos últimos anos tenha feito um calor danado) e, para autopremiação, há vinho e carne da melhor qualidade — depois de suar as canelas, bem entendido.
Desde que comecei a me aventurar no mundo dos 42K, em 2001, tenho como meta me qualificar como um sub 3h30 — o mais próximo que cheguei dessa marca foi um honroso 3:34, na enganosamente fácil maratona de Santiago, em 2014.
Este ano sabia que não iria conseguir bater meu recorde. Estava 4 quilos mais pesado e, a bem da verdade, treinei sem muita dedicação. Ainda assim, meu objetivo era não ficar muito longe do meu melhor.
Para minha surpresa, fiquei. E bastante.
Pouco depois dos 21K, percebi que não iria conseguir manter o ritmo previsto, embora viesse cumprindo excruciantemente o planejado. No 26K, as pernas começaram a cansar, e a energia, a minguar.
Confirmaria que as coisas não iam mesmo bem 9K à frente, quando meu treinador, ao me ver, disse uma frase nada encorajadora: “Sua camisa está branca, você está perdendo muito sal”.
Uma frase que traduzi por “Você vai quebrar, brother!”
Quando vi que não ia atingir minha meta, tirei o pé, no começo sem perceber e depois conscientemente. Pensei comigo: se eu não treinei para correr abaixo de 3:40, não tem por que achar que vou conseguir correr para tanto.
Decidi fazer a maratona possível. E ela foi esta: 3:53 cravados — coincidentemente, o mesmo tempo da minha primeira, aquela de 2001, em Amsterdã.
Terminei aliviado por não sentir câimbras, que costumam me perseguir entre o 30-34K. Estava cansando, mas bem menos extenuado do que nas outras maratonas.
Passada a primeira hora, já estava andando sem dores gritantes, cheio de disposição para flanar. No dia seguinte, o bem-estar se acentuou.
O que aprendi: ultrapassar o limite que separa o mal-estar do bem-estar depende de um recalibrar das ambições, observando o condicionamento do momento.
Uma corrida boa no passado não significa o mesmo no presente. Há que fazer por merecer.
Para reduzir minutos na prova é preciso estar leve e dedicar horas a mais para a corrida na semana — horas que muitas vezes nos faltam ou simplesmente não nos interessa dispor.
De qualquer forma, que a verdade seja dita: fazer uma maratona, em si, é um desafio, não importa o tempo, já que sempre se trabalha com o tanque reserva.
E não ficar no meio do caminho tem lá seu encanto.
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